Entre 1977 e 1983, o Teatro Nacional de Praga passou por uma significativa transformação com a inauguração do Nová Scéna, um "irmão moderno" do tradicional teatro neorrenascentista. Durante muitos anos, o Nová Scéna foi a sede do famoso Laterna Magika, considerado o primeiro teatro multimídia do mundo. Essa experiência inovadora misturava performances clássicas com efeitos visuais gerados por computador, proporcionando uma ação dramática que se destacava no imponente edifício de vidro, um ícone da era comunista e um símbolo do poder político da época.
A ideia de construir o Nová Scéna remonta ao final da Segunda Guerra Mundial, mas só se tornou realidade em 1983, com o projeto do arquiteto Karel Prager. O edifício fez parte da vasta reconstrução do Teatro Nacional de Praga, uma ambiciosa tarefa urbanística que incluiria diferentes frentes de ação. A oportunidade surgiu com a necessidade de demolição do complexo conhecido como Casas de Kaur, três casas classicistas adjacentes ao Teatro Nacional, que estavam em avançado estado de deterioração. Nessa época, foi anunciado um concurso público cujo assunto era o projeto arquitetônico-urbano para a área em questão. Os requisitos do concurso definiram as condições para o uso do novo edifício, declarando a demanda por um espaço experimental permanente para o Teatro Nacional, acomodando 300-400 pessoas, um edifício administrativo auxiliar com estúdios, uma área de armazenamento de cenários e serviços técnicos, além de um restaurante, café e clube. Todo o complexo de novas estruturas deveria ser conectado permanentemente ao edifício do Teatro Nacional, por meio de um túnel ou uma ponte.
Nos anos seguintes ao anúncio, várias competições foram realizadas, sendo a mais decisiva em 1962, quando 106 propostas foram recebidas. Dentre essas, oito foram selecionadas para a fase seguinte em 1965, e o mesmo grupo que venceu a primeira rodada também ganhou a segunda, liderado pelo arquiteto Bohuslav Fuchs. O projeto, caracterizado por uma estrutura horizontal e em dois níveis, foi interrompido em 1972 devido à morte de Fuchs. A responsabilidade passou, então, ao comitê de Reconstrução de Cidades e Estruturas Históricas (SÚRPMO), sob a liderança de Pavel Kupka, que iniciou uma nova fase em 1973. Sua comissão definiu que a remodelação do Teatro Nacional e de seu entorno deveria ser uma obra arquitetônica unificada.
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From Industrial Heritage to Affordable Housing: The Story Behind DADA Distrikt in Brno, Czech RepublicÀ medida que a obra avançava, entendeu-se a necessidade de utilizar o espaço do antigo edifício suplementar do Teatro Nacional, consequentemente, a estrutura original de concreto armado do edifício foi demolida em 1977, após apenas quarenta anos de existência. Nesse momento, vozes críticas começaram a ser levantadas até que um dos impulsos decisivos surgiu no ano de 1980, vindo do cenógrafo Josef Svoboda, que viu a possibilidade de estabelecer um lar para seu projeto Lanterna Magika, dentro da nova estrutura do teatro. Com base nessas pressões, um concurso de arquitetura com apenas convidados, foi anunciado, objetivando a inclusão do Nová Scéna (Novo Palco) no Teatro Nacional. Os arquitetos Karel Prager e Zdeněk Kuna em cooperação com J. Svoboda foram abordados. Uma das condições era o cumprimento do prazo e o respeito ao trabalho de construção já iniciado.
O julgamento da competição foi uma tarefa para a comissão de planejamento que, consequentemente, escolheu a dupla Kuna-Svoboda em 6 de outubro de 1980. O prazo para a abertura do palco era de 18 de novembro de 1983 e isso representou um problema central para a equipe. Karel Prager, no entanto, estava disposto a garantir esse prazo e a tarefa foi finalmente atribuída a ele. Em 20 de novembro de 1983, o Novo Palco pôde receber seus primeiros convidados.
O edifício foi inserido no entorno neorrenascentista sem rodeios. Sua forma final foi composta por duas partes: a próxima ao edifício barroco é discreta, transparente, com uma camada lisa de vidros de controle solar. A outra parte se ergue sobre pilares maciços, entre os quais uma passagem se abre para a praça do teatro. Do primeiro andar para cima, exibe uma arquitetura particularmente não convencional: sua forma distorcida é chanfrada na parte inferior, superior e nos cantos e é revestida com mais de quatro mil peças moldadas projetadas por Stanislav Libenský. Essas peças de vidro que criam o aspecto característico do Nová Scená têm formas diversas e, colocadas juntas, geram um enorme relevo. Todo o edifício se torna uma escultura peculiar.
Apesar da grandiosidade de sua fachada, internamente, o edifício logo apresentou inúmeros inconvenientes. Pelo fato dos detalhes do projeto, juntamente com os arranjos internos, terem sido concluídos às pressas durante a obra, muitos problemas surgiram. Por exemplo, qualquer rearranjo do palco consumia muito tempo e exigia muita equipe, portanto, a possibilidade de ter um palco adaptável foi logo abandonada. A má acústica do salão também criou grandes problemas, o sistema de comunicação dentro do teatro, incluindo elevadores, provou ser inadequado, e os sistemas de aquecimento e ar condicionado eram desproporcionais. Com o tempo, no entanto, algumas modificações técnicas foram realizadas e as consequências negativas de alguns erros de projeto foram suprimidas.
Durante dezoito anos, a identidade artística do Nová Scéna esteve intrinsecamente ligada às criações do Laterna Magika, até que, em janeiro de 2010, o edifício retornou à administração do Teatro Nacional. Reconhecido como um dos exemplos mais emblemáticos da arquitetura brutalista na República Checa, o Nová Scéna se destaca não apenas por seu design distinto, mas também por ser um dos edifícios mais controversos de Praga. Atualmente, ele continua sendo um espaço dinâmico, acolhendo apresentações, festivais, exposições e iniciativas educacionais, consolidando-se como um centro cultural vibrante. Seu arquiteto, Karel Prager (1923-2001), é responsável por várias obras icônicas na cidade, cujos edifícios também geram debates sobre sua estética e impacto, como a sede do Komerční banka em Smíchov. A trajetória de Prager e a relevância do Nová Scéna refletem a complexidade do diálogo entre tradição e modernidade na arquitetura checa, além de evidenciar a contínua evolução da cena cultural em Praga.
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